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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Heráldica: Aumento de Honras / Heraldry Augmentation of Honor




Por Sua Alteza Sereníssima
Andre Prinz von Trivulzio-Galli
18º Príncipe e Duque de Mesolcina e Príncipe do Sacro Império Romano-Germânico

Um tema pouco lembrado para aqueles que escrevem sobre a heráldica, é a temática do Aumento de Honras, coisa assaz bastante comum nos séculos que sucederam à Idade Média, porém quase totalmente esquecida em nossos dias.

Um Aumento de Honras, em italiano: Arma di Concessione, em inglês: Augmentation of Honor, e consiste, basicamente, na Concessão Heráldica, feita por um Imperador, Rei ou Príncipe, de parte de suas Armas pessoais a algum Vassalo seu, ou a algum partidário. 

A curiosa situação política italiana, onde não havia um Rei, porém onde a península era governada por dezenas de Príncipes mais ou menos Soberanos, possibilitou que as famílias italianas recebessem Concessões de Aumentos de Armas feitas por diversos Soberanos estrangeiros.

Brasão dos Gonzaga (depois Duques de Mantova) após o Aumento de Honras a eles concedidos em 1394 por parte do Sacro Imperador Romano-Germânico Venceslau de Luxemburgo, que sendo também Rei da Boêmia, permitiu que os Gonzaga levassem o leão da Boêmia como Aumento de suas Armas.


Os Sacro Imperadores Romanos-Germânicos foram os que mais Aumentos de Honras realizaram para famílias da nobreza italiana, principalmente àquelas do Norte. A maioria desses Aumentos consistiu na Concessão do uso da águia imperial, de sable (preta) sobre ouro. Tal águia foi utilizada tanto com uma cabeça (Impero antico) como bicéfala. 

Um Aumento de Honras, quando realizado, devia tomar a parte mais honrosa do escudo, assim, foram comuns os Aumentos de Honra utilizados em Chefe, ou ainda, no esquartelado do escudo (quando o Aumento utiliza o 1º e 4º campos), ou ainda como escudete sobre o abismo do escudo. 

O Rei da França foi sempre promissor em conceder Aumentos de Honras aos seus partidários italianos, e isso tinha uma razão prática: um Príncipe utilizando as Honras Heráldicas recebidas de um Rei estrangeiro era uma mensagem política importante, vez que, após o final da Idade Média, portar um brasão era necessariamente sinal de alinhamento político com o dono daquele brasão (mais ou menos o que se vê em nossos dias, com os partidários de determinados partidos, que usam os símbolos de seus grupos). 

Várias foram as famílias da mais alta aristocracia italiana que receberam Aumentos de Armas do Rei da França. Esses Aumentos, eram então chamados de Aumentos de França. Uma das mais antigas foi a dos Visconti, Senhores e depois Duques de Milão, que receberam seu Aumento de França ainda em 1395, quando Gian Galeazzo Visconti o recebeu do Rei Carlos VI de França, na ocasião do casamento do Duque de Milão com a Princesa Isabel de Valois. O Aumento de França concedido aos Duques de Milão era composto por um escudo de blau, com três flores-de-lis d'ouro em contrarroquete (Armas da França) tendo por diferença uma dupla bordadura, a primeira (externa) de goles, e a segunda (interna) de prata.
Grandes Armas dos Duques de Milão, com o Aumento de França
Os Duques de Milão utilizaram seu Aumento de França esquartelado com suas Armas Dinásticas, criando assim um padrão a ser respeitado e utilizado pelos demais príncipes italianos que o recebessem. Ainda em 1402, por reclamação do Sacro Imperador Romano-Germânico, Suserano do Duque de Milão, o Aumento de França foi substituído pelo um campo d'ouro com uma águia imperial, no padrão que se manteria para sempre como o Ducal de Milão; contudo, os Visconti manteriam seu Aumento de França em suas armas pessoais.

Aumento de Honras atribuída aos Visconti, Duques de Milão, Condes de Pavia, Senhores de Asti, Vicenza, Venosa, Pisa, etc., pelo Rei Carlos VI de França.

Casa de Est recebeu em 1431 um Aumento de Honras dadas pelo Rei Carlos VII, composto por um escudo de blau, com três flores-de-lis d'ouro em contrarroquete (Armas da França) tendo por diferença uma bordadura dentada de goles e ouro. Tal concessão deu-se por ser Niccolò III d'Este, Marquês de Ferrara, de Modena e Reggio, um dos maiores partidários do Rei Carlos VII. 

Aumento de Honras atribuída aos Est, Marqueses de Ferrara, de Modena e Reggio (depois Duques de Modena e Reggio), pelo Rei Carlos VII de França.

Quanto à Casa Colleoni, esta recebeu seu Aumento de França ainda em 1440, quando Bartolomeo Colleoni, Senhor de Calcinate, de Cologno al Serio, de Malpaga e de Covo, etc., Condottiere da Sereníssima República de Veneza, o recebeu do Rei Carlos VII de França. Barolomeo Colleoni foi um dos raríssimos Armigerantes que recebeu dois Aumentos de Honras do mesmo Rei: primeiramente, teve o direito de usar seu escudo cortado, I as Armas da França, e II a dos Colleoni; mais tarde, Carlos VII lhe concedeu novo Aumento de Honras, quando lhe concedeu que usasse um escudo de blau, com três flores-de-lis d'ouro em contrarroquete (Armas da França) tendo por diferença uma bordadura de blau e ouro.

Aumento de Honras dos Colleoni, Senhores de Calcinate, de Cologno al Serio, de Martinengo, de Malpaga, de Covo, etc. pelo Rei Carlos VII de França


A Casa de'Médici, que recebeu ainda em 1465 um Aumento de Honras dadas pelo Rei Luis IX, que consistiu nas próprias Armas do Rei da França, em formato redondo, a serem utilizadas sobre o abismo (centro) de seu escudo. Depois, no tempo de Lorenzo de'Medici, dito Il Magnifico, o Aumento de França passou a ser utilizado em chefe de seu escudo.

Aumento de Honras atribuídas aos de'Medici, Duques de Florença (depois Grão-Duques da Toscana), pelo Rei Luís IX de França


A Casa de Trivulzio recebeu seu Aumento de França em 1480, quando Gian Giacomo II Trivulzio, dito Il Magno, Duque de Venosa e de Melfi, Marquês de Vigevano e Conde de Mesolcina, torna-se o Marechal do Reino da França. O Aumento de Honras da Casa de Trivulzio consistia em um escudo de blau, com três flores-de-lis d'ouro em contrarroquete (Armas da França) tendo por diferença uma bordadura de goles com oito rosas de prata.

Este não foi o único Aumento de Honras que Gian Giacomo II Trivulzio adimpliu para sua Linhagem, pois vale-se lembrar que Il Magno Trivulzio também recebeu Aumento de Honras do Papa Inocêncio VIII, que em agosto de 1487 lhe concede a Rosa de Ouro, a maior honraria que pode ser concedida pela Santa Igreja. Para simbolizar tamanha honraria, É adimplido um campo de ouro com uma faixa de prata (cores da Santa Sé), carregada de uma rosa de ouro, entre duas cruzes páteas de goles.

Aumento de Honras atribuído aos Trivulzio, Príncipes de Mesolcina, Duques de Venosa, de Bojano, de Melfi, Marqueses de Vigevano, pelo Rei Luís IX de França


Não menos famoso que os anteriores, é o Aumento de França que foi concedido ao Ramo de Nevers da Casa de Gonzaga. Os Gonzaga-Nevers receberam como Aumento de França o direito de portar um escudo de blau, com três flores-de-lis d'ouro em contrarroquete (Armas da França) tendo por diferença uma bordadura de goles com oito besantes de prata; tais Armas são chamadas de Armas d'Alençon, justamente porque foram utilizadas pelos Duques d'Alençon (da Casa de Valois). Isso foi possível uma vez que Anna d'Alençon, filha do Duque Renato d'Alençon, casou-se com Guilherme IX Paleólogo, Marquês de Monferrato, e desse casamento nasceram 3 filhos, sendo uma delas, Margherita Paleólogo que casou-se com Frederico II Gonzaga, Duque de Mantova, legando então aos Gonzaga os direitos que sua mãe havia trazido com seu casamento, que passaram em seguida a Luis Gonzaga, terceiro de seus sete filhos, que casou-se com a herdeira do Ducado de Nevers, iniciando assim o Ramo dos Gonzaga-Nevers.

Aumento de Honras atribuído aos Gonzaga-Nevers, Duques de Mantova, de Nevers e de Rethel.


Algo bastante curioso sobre os Aumentos de Honras, é que eles podiam mesmo vir a serem utilizados como Armas principais da Dinastia, como muitas vezes fizeram os Gonzaga-Nevers, que passaram a utilizar seu Aumento de França como Armas plenas, mesmo que isso os colocasse em conflito com os Duques d'Alençon, que usavam as mesmas Armas.

Moeda de Carlos I de Gonzaga-Nevers, Duque de Mantova: nota-se que apenas são utilizadas as Armas de Alençon (três flores-de-lis em contrarroquete, com bordadura carregada de oito besantes).


HERALDICAMENTE o Aumento de Honras deve ser descrito à parte, de modo a se conservar na descrição heráldica o fato da peça não ser uma simples partição heráldica, mas sim ser um Aumento de Honras. Assim sendo, o brasão que segue, não deve ser descrito como "Equartelado, I e IV de blau, com três flores-de-lis d'ouro em contrarroquete com bordadura dentada de goles e ouro; II e III de blau carregado d'uma águia estendida de prata, armada, bicada, linguada e coroada d'ouro", pois, apesar de tal descrição ser heraldicamente correta ela é historicamente imprecisa, e como sabemos, Fiel Leitor, heráldica sem história é uma ciência estéril. Dessa forma, o modo correto de se descrever tal brasão, heraldicamente, é:

Equartelado: I e IV com o Aumento de Honras Concedido pelo Rei Carlos VII de França em 1431, que é de blau, com três flores-de-lis d'ouro em contrarroquete (Armas da França) tendo por diferença uma bordadura dentada de goles e ouro; II e III Armas dos d'Este, que são de blau carregado d'uma águia estendida de prata, armada, bicada, linguada e coroada d'ouro.

Uma curiosidade heráldica é o fato de que não existe nenhum termo heráldico em francês para se descrever um Aumento de Honras. Quando um heraldista franco deseja descrever um brasão que o contenha, deve utilizar o termo inglês Augmentation. Isso é de fato muito curioso, uma vez que foram os próprios Reis Franceses que mais difundiram esse costume ao longo dos séculos...

Uma coisa muito curiosa é o fato de que não foram apenas os Reis da França que concederam o Aumento de França! Por muitos séculos os Reis da Inglaterra sustentaram seus Direitos Dinásticos ao Trono da França (fato gerador da Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França), e dessa forma, como pretendentes anglicanos ao Trono da França, os Reis da Inglaterra também concederam algumas vezes o Aumento de França a seus vassalos. O mais famoso deles é, sem dúvida, o Aumento de Honras dos Duques de Marlborough, que foi concedido no ano de 1817 pelo Rei George III, e é composto por um escudo de blau, com três flores-de-lis d'ouro em contrarroquete (Armas da França) tendo por diferença uma bordadura de goles e de prata... Todavia, os Reis da Inglaterra sustentam não se tratar de uma bordadura em goles e prata, e sim de um campo de prata, com uma Cruz de São Jorge de goles, e sobre eles as Armas da França... Teorias heráldicas à parte, a conclusão de se tratar de uma bordadura, ou de um escudete de França sobre um escudo da Inglaterra (sic) deixo ao Fiel Leitor:

Aumento de Honras atribuído aos Spencer-Churchill, Duques de Marlborougt, Concessão essa feita pelo Rei George III da Inglaterra 

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