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sexta-feira, 23 de abril de 2021

Duque de Orléans ou Conde de Paris: qual o título correto? / Duke of Orléans or Count of Paris: what is the correct title?

 Como um Legitimista convicto que sou, a simples pronúncia do título de "conde de Paris" parece-me impalatável, bem como, ouvir sobre o mesmo, parece-me algo inconcebível, todavia, mesmo como Legitimista que sou, debruçando-me sobre a história desse título, fico agora mais aliviado ao ouvir falar dele.

Antes que algum dos Fiéis Leitores chegue a errônea conclusão de que tornei-me "orleanista" (que Deus me livre disso), antes devemos esclarecer algo muito importante sobre a Monarquia na França: desde que ocorreu a revolução francesa, Louis-Philippe II d'Orléans, 5º Duque de Orléans, grão-mestre da maçonaria francesa, declara não ser um Orléans, abre mão de seus títulos e de seu sobrenome, a adota o sobrenome "Égalité" (igualdade), passando assim a se chamar Philippe Égalité, e vota pela morte de Sua Majestade Cristianíssima o Rei Louis XVI, tornando-se assim um regicida. Após a morte de Louis XVI e Louis XVII, é coroado na França Sua Majestade Imperial Napoleão I, Imperador dos Franceses, iniciando a dinastia dos Bonaparte

Após a queda de Napoleão I, Sua Majestade Cristianíssima Louis XVIII, irmão mais novo de Louis XVI é coroado como Rei da França, é a chamada Restauração da Dinastia de Bourbon. Louis-Philippe III d'Orléans, filho de Philippe Égalité implora pelo perdão do Rei, e é readmitido na Corte como 6º Duque de Orléans. Possuía o tratamento de Alteza Sereníssima, que o Rei Louis XVIII aumenta (não se sabe se a título pessoal ou hereditário) como Alteza Real.

Após a morte de Sua Majestade Cristianíssima Louis XVIII, seu irmão é coroado Rei com o nome de Carlos X, dando continuidade a Monarquia Legitimista da Casa de Bourbon. Em Julho de 1830, uma rebelião, liderada por Louis-Philippe III d'Orléans, 6º Duque de Orléans, pretende destronar o Rei Carlos X, que então, dizendo a famosa frase "a história já nos ensinou a nunca confiar em um Orléans" e abdica a Coroa em favor de seu filho, o Delfin Louis de França, que torna-se então Sua Majestade Cristianíssima o Rei Louis XIX. Todavia, Louis XIX, também decide abdicar em favor de seu sobrinho, que torna-se então Sua Majestade Cristianíssima o Rei Henri V de França. 

Louis-Philippe III d'Orléans, 6º Duque de Orléans, é então declarado Regente do jovem Rei Henri V, que então contava com tão somente 10 anos de idade, todavia, Louis-Philippe III d'Orléans, mostrando bem ser filho do regicida Philippe Égalité apenas informa aos Deputados da Abdicação do Rei Carlos X e de Louis XIX, mas nada menciona acerca do fato de Henri V ter tornado-se assim o novo Rei da França, e por meio de um golpe de estado, torna-se Sua Majestade Louis-Philippe I, Rei dos Franceses (nunca recebe o título de Rei da França, nem o tratamento de Majestade Cristianíssima). É criada então uma nova monarquia, chamada de MONARQUIA DE JULHO (pela sua curta duração de apenas 18 anos).

Este reino dos franceses, efêmero desde a sua criação, precisava de novos símbolos, de modo que, em 1831, Louis-Philippe I abre mão de seu brasão como Duque de Orléans (campo de blau com três flores-de-lis de ouro postas em roquete (Armas da França) com a diferença de um lambel de três pendentes de prata), e decide criar um novo brasão, que seria assim descrito: campo de blau carregado com um livro de ouro em forma de tábuas, e tendo nele escrito "CHARTE CONSTITUTIONNELLE 1830". Também o Rei dos Franceses adota a antiga bandeira tricolor de Napoleão, e a Legião de Honra torna-se a mais alta condecoração desta nova monarquia.

Brasão do Rei dos Franceses, que tornou-se armas alternativas da Casa de Orléans


Nesta nova monarquia a dinastia reinante é a Casa de Orléans, que assim torna-se a Casa Real dos Franceses, mas nunca a Casa Real da França (representada no exílio pelo Legítimo Rei da França), e nesta nova monarquia, Louis-Philippe I declara seu filho mais velho como Sua Alteza Real o Príncipe Real da França (ou seja, não como Delfin, título da Monarquia Tradicional, mas sim "Príncipe Real"), e ao filho mais velho deste, Louis-Philippe d'Orléans concede o título de Conde de Paris


Foi justamente com o Príncipe Real que irá acontecer um dos maiores fiascos políticos da Monarquia de Julho: Louis-Philippe, Rei dos Franceses, tentará casar seu filho Ferdinand-Philippe, Príncipe Real, a quem havia cedido o título de Duque de Orléans, na tentativa de dar maior respaldo legitimista; todavia, nenhuma Família Real Católica no mundo irá aceitar o pedido de casamento. Se irá tentar tratar o casamento com a Princesa Dona Januária de Bragança, Princesa do Brasil e Infanta da Portugal, filha de Dom Pedro I do Brasil, porém este, alegando motivos "de distância" recusará o casamento... se tentará então o casamento com Sua Alteza Imperial e Real a Arquiduquesa Maria Theresa de Habsburgo-Lorena, porém o Império Austríaco rejeitou a proposta com veemência. Em seguida, se tentará buscar uma noiva no pequeno Reino de Württemberg, na pessoa de Sua Alteza Real a Princesa Sophie Prinzessin von Württemberg, porém o Rei Willian I de Württemberg não aceitará o pedido de casamento, causando um enorme constrangimento contra a Casa de Orléans. Constrangimento piorado pouco depois, quando o Rei de Württemberg irá concordar que a Princesa Sophie case-se com o Conde austríaco Alfred Neipperg, deixando claro que, para o Reino de Württemberg (bem como para todas as Casas Reais), um Conde valia mais do que o Duque de Orléans...


Brasão do Príncipe Real da França, ou Príncipe Real dos Franceses, durante a Monarquia de Julho


Sem ter mais alternativas, Louis-Philippe d'Orléans irá procurar entre as Casas Principescos protestantes alemãs uma esposa para seu filho. Encontrará no pequeno Ducado de Mecklembourg-Schwerin uma esposa, na Princesa Hélène Louise Élisabeth Prinzessin von Mecklembourg-Schwerin. Todavia persistia um sério problema: Hélène Louise era luterana, e negou-se a converter-se a Catolicismo para o casamento... Casar-se com uma Princesa de origem luterana, nunca foi um problema na França, porém era a primeira vez que uma princesa de origem luterana não abraçava a Fé Católica antes do casamento. Como a Princesa manteve-se luterana após o casamento, os descendentes desta união passaram a ser vistos como possivelmente não Dinastas para os Legitimistas. 

Com a morte do Príncipe Real da França, e a derrocada de Louis-Philippe I em 1848, seus partidários passam a utilizar os símbolos da efêmera monarquia de julho como símbolos próprios, é o chamado "partido orleanista", que prega uma monarquia moderna e liberal, contrária aos ideias da Monarquia tradicionalista e Católica, representada pela Casa de Bourbon e seus apoiadores, os chamados Legitimistas.

Após a morte de Louis-Philippe I, seu neto, o Conde de Paris passa a ser chamado de Louis-Philippe II, Conde de Paris. Tentará em vão ser reconhecido por Sua Majestade Cristianíssima o Rei Henri V de Bourbon antes de sua morte, porém será em vão.

Será desta forma que passarão a haver três linhas de sucessão à França: A Sucessão Legitimista (da Casa de Bourbon, chefiada por Sua Alteza Real o Duque de Anjou, e representando quase mil anos de Monarquia Capetiana), a Sucessão Bonapartista (da Casa de Bonaparte, chefiada por Sua Alteza Imperial o Príncipe de Napoleão, representando os dois impérios franceses, de Napoleão I e Napoleão III); e por fim, a Sucessão Orleanista (da Casa de Orléans, chefiada por Sua Alteza Real o Conde de Paris, representando uma monarquia que durou apenas 18 anos, e em nada teve de ligação com a Monarquia Capetíngia). 

O mais peculiar é que, pelas Leis Fundamentais do Reino da França, mesmo após todas as traições dos Orléans, eles continuam na Linha de Sucessão Legitimista ao Trono da França, o podendo reclamar Legitimamente em caso da morte de todos os Bourbons do mundo (algo que, graças a Deus, é virtualmente impossível), e para saber mais sobre isso, recomendamos essa outra postagem do Corriere della Mesolcina, clicando aqui

Mas, desta forma, como já esclarecida a situação do que foi a efêmera Monarquia de Julho, e que, embora o Duque de Orléans, que estando na Linha de Sucessão Legitimista ao Trono da França possui os títulos de Sua Alteza Sereníssima o  Duque de Orleans , Duque de Valois, Duque de Chartres, Duque de Nemours, Duque de Montpensier, Delfim de Auvergne, Príncipe de Joinville, Senescal Hereditário de Champagne, Marquês de Coucy, Marquês de Folembray, Conde de Soissons, Conde de Dourdan, Conde de Romorantin e Barão de Beaujolais, Príncipe de Sangue de França. Todavia, no caso de insistirem na sucessão do "Reino dos Franceses" da Monarquia de Julho, podem utilizar o título de Conde de Paris, que foi criado por Louis-Philippe I em 1831.


Mas, vale-se lembrar que, nem todos os pretendentes orleanistas utilizaram o título de Conde de Paris, um deles utilizou o título que lhe cabia como Duque de Orléans, e outro elegeu o de "duque de Guise", ao qual não tinha direitos, nem sob a Monarquia Legitimista, nem sob a monarquia de julho...


Brasões das esposas dos pretendentes Orleanistas:


Brasão de Sua Majestade Marie-Amélie de Bourbon-Duas Sicílias, Rainha dos Franceses, esposa de Louis-Philippe I, Rei dos Franceses


Brasão de Sua Alteza Real Hélène Louise Élisabeth Prinzessin von Mecklembourg-Schwerin, Princesa Real dos Franceses, Duquesa de Orléans, esposa de Ferdinand-Philippe, Príncipe Real e Duque de Orléans.

                                       


Brasão de Sua Alteza Real a Princesa Marie-Isabelle d'Orléans-Galliera, Condessa de Paris, esposa de Louis-Philippe II, Conde de Paris


Brasão de Marie-Dorothée de Habsbourg-Lorraine, Duquesa d'Orléans, esposa de Louis-Philippe III, Duque de Orléans


Brasão de Isabelle Marie Laure d'Orléans, Duquesa de Guise, esposa de Jean d'Orléans, Duque de Guise


Brasão de Isabelle d'Orléans-Bragança (ou Orléans-Eu), Condessa de Paris, esposa de Henri Robert d'Orléans, Conde de Paris

Houveram mais três consortes orleanistas, todavia, pela vida escandalosa de Henri, Conde de Paris (filhos de Henri Robert), que além de ser declaradamente maçom (portanto, excomungado da Igreja Católica) abandonou a sua legítima esposa, Sua Alteza Real a Princesa Maria Teresa von Württemberg, para casar-se civilmente com Micaela Cousino, ela própria divorciada de Jean-Robert Beef, logo, não desenharemos, nem publicaremos os brasões destes escandalosos consórcios.  

Brasões de Armas:

Como vimos acima, o Duque de Orléans, como Príncipe de Sangue de França tem como brasão estas armas:

Armas da França, tendo por diferença um lambel de prata de três pendentes. Coroa de Príncipe do Sangue

Bem como, enquanto pretendente orleanista a continuador da malfadada "monarquia de julho" tem estas armas:

Campo de blau carregado com um livro de ouro em forma de tábuas, e tendo nele escrito "CHARTE CONSTITUTIONNELLE 1830". Coroa real de Louis-Philippe I dos Franceses


E poderiam agora perguntar, mas então quando o Duque de Orléans/Conde de Paris terá direito a estas Armas?:

Armas dos Reis Cristianíssimos da França

E a resposta é: NUNCA! Pois tais Armas pertencem ao Chefe da Casa Real da França (não da "Casa Real dos Franceses"), que é o Primogênito entre os Capetíngios: Sua Alteza Real o Príncipe Louis XX de Bourbon, Duque de Anjou! 


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Texto e brasões de armas (com peças da Wikipédia) de Sua Alteza Sereníssima o Príncipe Don Andre III Prinz von Trivulzio-Galli, Duque de Venosa, 14º Príncipe de Mesolcina e do Sacro Império Romano-Germânico.

Para falar com o autor, escreva para: principeandregalli@gmail.com




2 comentários:

  1. Apenas um registro - sem nenhuma pretensão de querer ser o "dono da verdade:

    A dinastia Bourbon francesa, pelo menos a pretensão "legitimista" Bourbon, se extinguiu com o conde de Chambord.

    Na França não havia a menor possibilidade de um estrangeiro reinar na França, mesmo que esse estrangeiro fosse da dinastia Bourbon.

    Está amplamente registrado na história a tentativa da viúva do conde de Chambord em mudar essa tradição, porém sem obter sucesso. Fato esse que dividiu até mesmo os legitimistas, já que a referida condessa traiu o acordo familiar onde Filipe d'Orleaes, sucederia o conde de Chambord e encerraria esta questão de uma vez por todas - traição esta, que enterrou qualquer esperança de se restaurar a monarquia naquele país, pois nas palavras do presidente francês da época, "a República os dividia menos".

    Portanto a pretensão de João, conde de Montizon, sobrinho e herdeiro dos espólios do conde de Chambord, é sem fundamento, pois, além de ser Espanhol, ainda pertencia a nobreza espanhola, desta forma, EXCLUIDO inexoravelmente da linha sucessória francesa, tornando a casa d'Orleaes única e legítima casa 'de jure' reinante da França, à partir dos descendentes de Felipe d'Orleaes.

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    1. Olá Marcos. Sem sombra de dúvidas, fizestes uma bela argumentação, todavia, a tradição de "ser francês" para herdar o trono da França, nunca existiu nas Leis Fundamentais do Reino, e são apenas uma estória criada pelos orleanistas, para assim, tentarem minar a Legitimidade da Casa de Bourbon.

      Vejas bem o caso concreto do Rei Henri IV da França, o primeiro Rei Bourbon da história francesa. Henri IV não era francês, era navarro, filho dos Reis de Navarra, e ele próprio Rei de Navarra antes de subir ao Trono como Rei da França...

      Henri IV de Bourbon sucedeu a Henri III da França, o último Rei Valois da história da França, e ninguém sugeriu que o fato de Henri IV ser navarro, não francês, o privaria dos direitos sucessórios como Filho de São Louis.

      Desta forma, se um navarro, filho dos Reis de Navarra, pode Suceder ao Trono Francês, por ser o mais velho dos Capetianos, então porque um espanhol, descendente de Reis espanhóis também não poderia, se for o mais velho dos Capetianos?

      (e não esqueça nunca que o próprio Príncipe Henri-Philippe Maria d'Orléans não era francês... ele próprio era belga...)

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